Sessenta Tons de Amor
- Jaianne Costa
- 5 de mai. de 2023
- 3 min de leitura
Idosos quebram tabu e assumem sua sexualidade
Por Jaianne Costa

Quem costuma usar o transporte público em Salvador sabe que a cor das cadeiras preferenciais nos ônibus são amarelas, mas no que depender de Theo, elas passariam a ser da cor do arco íris, com direito a glitter nas laterais.
Edna Silva é o nome próprio que consta em seu RG, apesar de Theo, como prefere ser chamado, não se reconhecer assim. Nesse mesmo documento consta sua data de nascimento, entregando seus 70 anos não só de idade, mas de história, como o próprio Theo define. “Desde minha adolescência que não me sentia confortável com meu corpo, com as roupas que tinha em meu guarda roupa e
principalmente pelo pronome que algumas pessoas me chamavam e ainda chamam. Comecei a me referir no masculino sem nem ao menos perceber”, relembra ele, que assume ter reconhecido ser transgênero tarde, por falta de informação da época.
Num dos muitos episódios que Theo já vivenciou, houve um caso recente quando ele e sua namorada estavam de mãos dadas no transporte público, nas cadeiras preferenciais, quando uma terceira idosa insultou o casal.
Theo é só mais um exemplo de muitas outras pessoas que possuem a idade como um fator de preconceito e invisibilidade, agravado quando somado ao fato do idoso ser também LGBTQIA+. Para a psicóloga Edivana Almeida, que trabalha diretamente com o público idoso há mais de 10 anos, relacionamentos na terceira idade são um tabu, e isso se agrava quando o relacionamento é LGBTQIA+, onde “ninguém toca no assunto, é como se fosse invisível, existe, mas ninguém quer ver”, conta a psicóloga.
Edivana recebe diariamente casos de pacientes idosos em processo de assumir a sexualidade. Num desses casos, houve o de uma idosa lésbica de 68 anos, que viveu casada durante anos e teve duas filhas, mas só conseguiu ser feliz quando se separou para ficar com uma mulher mais jovem. “Esta decisão causou uma comoção familiar de tal proporção que ela passou a ser hostilizada e explorada financeiramente pelas irmãs e filhas, chegando a se endividar. Ela enfrentou tudo e a todos, sofreu humilhações e agressões, mas se manteve com sua companheira”, conta a psicóloga, que sinaliza ainda que negar a sexualidade pode acabar levando à depressão na terceira idade.
O Sexo na terceira idade
“Não gosto de rótulos, gosto de viver o que o sexo tem a me oferecer, principalmente o sexo com amor”. É com essa frase que o professor de história da rede pública, Dirceu Pereira, de 62 anos, define sua vida sexual. “Gosto de namorar, de ir ao cinema e logo em seguida trocar energia durante o sexo”, conta.
Dirceu namorou a vida inteira com mulheres achando ser o certo a fazer para negar sua sexualidade. Quando “surgiu isso de assumir”, ele ainda morava no interior da Bahia e só assumiu sua sexualidade com 50 e poucos anos, quando não pôde mais esconder que estava apaixonado por um rapaz. “Passei por cima dos preconceitos familiares para viver com ele. Certa vez minha mãe disse que mataria o filho que fosse gay e, num momento de coragem, perguntei se ela me mataria. Lembro que ela chorou muito depois disso”.
O Theo do início da matéria, quando questionado sobre como lidava com preconceitos familiares, revelou o segredo para resolver esse problema: “Como eu lido com isso? (risos) Fazendo muito sexo e vivendo feliz, sendo quem eu sou, ignorando esses tipo de pessoas que nos julgam por amar e por sermos nós mesmo.”
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